eu sou aquilo que mereço ser.

falhei. como homem, como amante e como amigo. sou um alienígena. um bicho do mato. afasto quem se importa comigo. por isso aqui voltei. e mereço. sofro. dói. custa-me respirar. agonia-me. o pânico apodera-se das minhas entranhas. não quero. não quero que as coisas sejam diferentes. mas eu sou um cretino. e por ser um cretino, as coisas mudaram. e para pior - afinal de contas há alguma coisa que mude para melhor? 

levasse socos no estômago, a dor era menor. mas tenho de sofrer. tenho. de. sofrer. não posso interferir mais com a tua felicidade. não posso mais causar-te dor. não posso fazer com que dês esse passo rumo ao abismo. pudesse eu remover o que te fiz, sacrificando algo...

sou um rei midas, mas ao contrário. um rei merdas.

infelizmente, voltei. regressei à cela da qual estive afastado nos últimos três anos. pensei que já estivesse livre daqui.
como me enganei.
sinto-me frágil, desprotegido, gelado. vazio. como se fosse apenas um invólucro despojado de conteúdo, descartado numa qualquer ruela abandonada e vogando consoante o vento.
o frio sentiu saudades minhas. não o quero, mas ele abraça-me, não me larga. a solidão aperta-me o coração novamente, como nos velhos tempos.
estou em casa.

bem-vindos ao meu inferno privado.
bem-vindos ao meu lado escuro.
não quero falar, e ao mesmo tempo quero gritar ao mundo o que me tortura. o que provoca esta dor que me aperta o peito.
coisas que nunca deveriam de ter acontecido, aconteceram... e agora estou a pagar o preço.
pecados mortais... se fosse religioso, estaria já tudo terminado. mas talvez fosse melhor assim.
porque me torturas assim? que mal te fiz eu, em que fui incorrecto, para receber agora a tua indiferença?
todos os dias vejo a tua cara, o teu sorriso... encontro pessoas que me lembram de ti, pessoas de quem nem sequer me posso aproximar...
nunca devia ter deixado as coisas chegarem a este ponto.
infelizmente, não posso fazer nada. só tu. mas tu não fazes.
e por aqui me arrasto.
maldição.

não me consigo mexer.

tomara ter conseguido fugir... mas infelizmente não fui bem sucedido. continuo prisioneiro de mim mesmo, fechado na minha cela, atormentado pelos meus fantasmas.
e atormentado pela minha solidão.
dói estar neste espaço escuro e frio sozinho, quando já tive companhia, a mais bela companhia que poderia desejar...
mas essa companhia foi-se embora.
e eu fiquei só.
sem te poder ver, sem te poder cheirar, sem te poder ouvir...
tortura.
mais valia terem-me enforcado.

é impossível. é inútil. não consigo mais. e para além disso... não serve de nada.
estou cansado de continuar a tentar, de continuar a humilhar-me e a rebaixar-me, a tentar o tudo por tudo para que as coisas voltem aos eixos, que o mundo fique um pouco melhor... porque chego ao fim do dia e vejo que nada muda.
nada muda.
tudo continua como dantes... mas não é o "antes" que eu desejava. ou mesmo o "antes" que eu acho que seria o mais correcto e mais justo para todos... porque as coisas não são simples. ou então porque há quem as faça complicadas.
quem não saiba o que quer, afinal de contas.
E assim continuo, a arrastar-me, a pensar porque tudo continua na mesma e porque me sujeito eu a estas coisas... porém, a resposta é simples.
porque amo.
porque sou humano.
porque me importo.
porque sou idiota.
porque acredito nas pessoas, e acredito numa pessoa em especial.
é tão simples como isto.
porém, saio da minha cela, e o que é simples, aparentemente, deixa de o ser. não sei porquê.
pergunto-me o porquê de tudo isto. ou até mesmo se há um motivo lógico para as coisas seguirem este rumo, que só traz infelicidade e miséria a todos os que estão envolvidos... porém, parece que só me afecta a mim.
bom para todos.
um dia, tudo isto vai acabar. de uma forma ou de outra.

não consigo mais.
estou farto.
custa passar a vida sozinho, desacompanhado, com falta daquela pessoa que faz a diferença. custa ser sempre o segundo a chegar... e custa fazer-me à estrada. mas também custa não ser apelativo. não sou simpático, não sou assim tão bonito quanto isso, mas vejo gente bem mais feia que eu e bem mais "rasca" que eu a safar-se... e a safar-se bem!...
não consigo ser diferente, porque é assim que eu sou. não sei finjir. não sei ser actor, seguir um papel que não me diz absolutamente nada, ser outro alguém que não eu, apenas para agradar, para ser, vá, apelativo a quem quer que seja. não sou falso nesse aspecto. posso ser um filho da puta, mas não sou falso. o que vocês vem é o que vocês tem. sem mais nem menos. e talvez seja por isso que as coisas estão como estão. mas eu sou assim. e por isso estou preso.